segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Einstein não era cristão nem acreditava no deus judaico-cristão

Este é um erro de interpretação muito comum sobre a religiosidade de Einstein, na maioria das vezes ocasionado pela extração de fragmentos da fala do cientista retirados de contexto por pessoas interessadas em ganhar este adepto à sua religião.

Porém, em várias ocasiões Einstein esclarece sua religiosidade, deixando claro que não acredita em um deus humano, que interfere em nossas vidas, preocupa-se com nossos atos e nos concede vida eterna. O deus de que ele fala é o deus de Spinoza (pesquise por panteísmo), que nada mais é do que a noção de que todo o cosmos (incluindo nós, que somos parte dele) é como um ser organizado e interligado.

Quando Einstein afirma isto, ele se demonstra maravilhado com a matemática do universo, com a forma harmônica como tudo se organiza e não com noções transcendentais (vida após a morte), com implicações para a moral humana. Einstein disse certa vez: ou não acredito em milagres, ou acredito que tudo é um milagre. Entende como este conceito de deus dele é totalmente diferente do que as pessoas acreditam? Entende como este deus é "inútil" para aplacar os anseios das pessoas? Afinal de contas, para que serve um deus que não faz milagres, não nos garante a vida eterna e nem mesmo tem uma consciência humana (ou seja, ignora nossa existência)?

Contudo, a ciência já evoluiu um bocado depois de Einstein e até mesmo este deus-universo-harmônico já morreu. Quando Einstein disse "deus não joga dados" ele se recusou a aceitar as novas proposições trazidas pela física quântica, que, ao contrário de sua visão matemática de mundo, prega um mundo caótico, onde partículas podem ocupar mais de um lugar no espaço ao mesmo tempo e não podem ser medidas senão por cálculos estatísticos de probabilidade. Ou seja, a física quântica representa um banho de água fria nas pretensões de universo perfeito de Einstein (dica de livro do Marcelo Gleiser, Universo Imperfeito, que explica isto maravilhosamente bem). E o que temos? LHC, Bóson de Higgs, discos rígidos de computador, para citar apenas algumas das coisas que evoluímos desde então é que tem estreita relação com a física quântica.

Um cara chamado Hubble descobriu no meio do século passado que o universo estava em expansão. Usando as próprias teorias de Einstein (que continuam válidas para objetos macroscópicos) começou-se uma odisseia para provar o formato do universo. As implicações disto eram se o universo iria se expandir eternamente, se iria parar de expandir e estabilizar ou se ia começar a encolher e sofrer um colapso (voltando a expandir novamente em outro big bang). Décadas depois os cientistas estão bem avançados neste tipo de cálculo e na coleta de evidências. O que tenho visto é que a noção de que o universo é plano é quase uma unanimidade na comunidade científica. Isto implica em, nada mais, nada menos, provar que se somarmos toda a matéria e energia do universo o resultado é zero. Ou seja, a ciência moderna, usando as próprias teorias de Einstein, está nos mostrando como tudo o que conhecemos pôde surgir do nada sem a necessidade de uma força divina.

Texto extraído de Gustavo Marotta

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