sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Ateu, não anti-Deus. Por @pablovillaca

Reproduzo aqui texto escrito pelo crítico de cinema mineiro Pablo Villaça. Representa bem resumidamente o que também penso e quero com este blog. Respeito pessoas, não ideias, se discordo delas. Assim como religiosos de uma crença ou subdenominação cristã criticam os religiosos de outra crença ou subdenominação cristã.

Estou um deus a menos na sua frente.

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Ateu, não anti-Deus.
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Eu não acredito em Deus.
Já acreditei. Muito. Nunca tive religião, mas considerava Deus um chapa. Eu não rezava, mas conversava com ele. Sentia conforto em pensar que ele me ouvia (não usarei as maiúsculas reverentes obrigatórias a não ser ao grafar seu nome). Tinha rituais.
Aos poucos, percebi que minha crença não era fruto de minha própria fé, mas de um condicionamento que começara na primeira infância através de vários “Deus te abençoe”, “se Deus quiser”, “Deus me livre”, “vai com Deus” e por aí afora. Meu Deus não era meu, mas uma herança cultural. O dia em que disse em voz alta “Sou ateu” pela primeira vez, senti-me livre como nunca antes. Minha vida passou a ser regida pela vontade de ser alguém melhor, não por elucubrações fantasiosas sobre o que há após a morte ou sobre regras divinas traduzidas por representantes dúbios.
Dito isso, sou filho de uma espírita. Médium, como se não bastasse. Meu primo Carlos Magno e sua esposa, que amo como se fossem meus irmãos, são evangélicos (ela mais do que ele). Meu tio favorito, Jones, tem seu pai de santo como conselheiro. Amo estas pessoas como a mim mesmo e respeito quem são.
Mas abomino a religião.
Nada tenho contra a crença em Deus. Entendo como o conceito de um “pai”, de um “criador”, pode ser reconfortante. Livrei-me da necessidade de crer em algo similar, mas não acho que aqueles que sentem Deus em suas vidas são menores ou tolos. Acho absurdo, acho fabulesco e acho infantil, mas não tolo ou reprovável. Sou um ateu que abraça o amor pelo Deus no qual você acredita. Jamais me ocorreria condenar o que te conforta.
Mas se há algo dispensável nesta equação é a religião. Pense: você é católico ou evangélico basicamente por um acaso geográfico e cronológico: se tivesse nascido na Índia ou no século 15, em vez de no Brasil no século 20, creio ser razoável supor que provavelmente não seguiria padres ou pastores. Como pode, então, atribuir tamanha importância, solenidade e reverência a algo tão frágil? Se Deus existisse, você realmente acredita que ele condenaria centenas de milhões de pessoas ao inferno apenas porque passaram a seguir regras e dogmas colocados no papel por humanos falhos?
E como são falhos. Todos os dias – sem exceção -, você encontra na mídia notícias sobre incidentes revoltantes envolvendo homens e mulheres que se dizem representantes terrenos do divino. Aqui, um padre é preso por pedofilia (algo que – como fartamente documentado pelo New York Times e pelos documentários Deliver Us From Evil e Mea Maxima Culpa – o papa anterior encobriu quando era cardeal); ali, um pastor é preso por dizer que seu pênis era algo “sagrado”. Em Israel, uma linda menina dona de uma voz sagrada (e, para mim, a Arte merece este adjetivo) é suspensa de sua escola por ter tido a temeridade de “cantar diante de homens”, ao passo que o islã cobre suas mulheres e as subjuga ainda mais do que a Igreja Católica (e isto é um feito difícil de alcançar).
Ora, basta estudar a História do mundo para constatar a atuação nefasta da religião e de seus representantes.
Olhamos hoje para as atitudes e ditos de papas, bispos, cardeais e fiéis dos séculos 17, 18, 19 e 20 e pensamos: “Como podiam ser tão atrasados?”. Pois não se iludam: nos séculos 21, 22 e 23, os pastores, padres, rabinos e aiatolás serão vistos com o mesmo espanto, como relíquias anacrônicas.
Creia em Deus se te faz bem. Mas não permita que um humano use isto para ganhar poder, dinheiro ou fama.
Apenas em 2012, nada menos do que 20,6 bilhões de reais foram arrecadados por grupos religiosos no Brasil. Uma quantia superior a – acreditem ou não – o orçamento anual de 15 dos 24 ministérios da União. Quanto pagaram de impostos? Zero. Por quê? Não faço ideia, mas isto se reflete curiosamente na lista publicada recentemente pela Forbes, que listou seis pastores brasileiros entre os homens mais ricos do mundo.
Aparentemente, são chapas de Deus.
Não, não morro de amores pela religião. Sim, há religiosos bem intencionados, mas o sistema ao qual servem é corrompido. O poder e o dinheiro ditam as regras, bem como um conservadorismo alarmante que, em 2015, insiste em tratar mulheres como seres inferiores e que diz que homossexuais são criaturas repugnantes.
Ora, a religião é, sim, uma questão de escolha; sua orientação sexual, não. Além disso, como condenar o amor? Não importa se você ama alguém com o mesmo sistema reprodutivo que o seu; num mundo já tão violento e tomado pelo individualismo, qualquer forma de amor deveria ser celebrada, abraçada, protegida. Se um homem quer beijar outro ou se uma mulher quer acariciar os seios de outra, qual a diferença? São seres humanos, mortais, cientes de sua finitude, buscando amparo, carinho, afeto e amor nos braços de um companheiro de espécie. Que lindo. Enxergar algo reprovável nisto apenas porque o par de cromossomos 23 dos amantes é idêntico é algo… que faria uma criança inclinar a cabeça e perguntar o que há de errado com você.
Sou ateu.
Recentemente, uma pesquisa revelou que as duas minorias mais odiadas (reparem o verbo; não se trata de “reprovar”, mas “odiar”) pelos brasileiros eram homossexuais e ateus.
Branco, heterossexual e homem, finalmente pertenço a uma minoria hostilizada. Eba.
Se Deus existisse, teria sido responsável por minha criação. Por que me odiaria? A resposta óbvia é: não odiaria. Quem dita este ódio são aqueles que se apontam como seus representantes terrenos – e só o fazem porque enxergam religiões diferentes (ou a falta de religião) como concorrentes no mercado da fé. Infelizmente, estes representantes (felizes na lista da Forbes ou não tão ricos, mas confortavelmente amparados por doações isentas de impostos) exercem uma influência inegável sobre milhões de pessoas, que, acreditando agir em defesa de Deus (ele precisa?), acabam se transformando em criaturas capazes de atos absurdamente vis.
Mais de 230 pessoas morrem numa boate no Rio Grande do Sul e evangélicos de todo o país vão ao YouTube, a comentários de sites e a blogs para dizer que as vítimas estariam vivas caso não estivessem pecando.
Isto não é falar por Deus; é vomitar pelo Diabo.
(Não que acreditar no Diabo seja menos tolo; é incrível que qualquer adulto admita crer num ser tão absurdo sem sentir vergonha.)
Sou ateu. Mas não reprovo a crença em Deus. Reprovo, contudo, a tolice da religião. Você não precisa de intermediários terrenos, falhos, gananciosos e cruéis, para comungar com aquele que você julga ser seu criador. Conferir poder a estes indivíduos é temeroso na melhor das hipóteses; na pior, é um desastre absoluto.
Além disso, entenda algo: sua fé não passa de um conjunto de ideias formatado para se conformar a uma ideologia religiosa. Você a chama de “Fé” (com maiúscula), claro, mas ela se resume, em sua essência, a conceitos, ideias. E, como tal, pode ser questionada. Se alguém diz que os conceitos de concepção imaculada, ressurreição e andar sobre as águas é tolice, você não pode dizer que o indivíduo em questão está sendo “intolerante”.
O ateu nada mais é do que alguém que acredita num Deus a menos do que você.
Pense no Lorde Xenu da Cientologia ou no anjo Moroni do Mormonismo. Ora, pense em Maomé. Ou em André Luiz. A menos que você considere todos igualmente plausíveis e dignos de crença, você é tão ateu quanto eu. Bom, talvez não tanto, mas está a um deus de distância da descrença absoluta.
Não somos tão diferentes assim, você e eu. Na realidade, o que nos separa é basicamente o fato de que eu jamais ajudaria um ser humano profundamente falho e repleto de preconceitos a assumir a posição de influenciar outros apenas porque o considero uma espécie de telefonista de Deus.
E se você refletir com cuidado, perceberá que tampouco precisa deste telefonista. Deus ficará feliz em te atender pelo celular.
Não que ele exista.

Originalmente postado aqui.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Resposta a vídeo do (falso profeta) Pr. Airton Williams, da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, sobre homossexualidade e evolução





"O que é normal?" Sua resposta não é absoluta, embora você ache que é. É uma resposta relativista, pois enxerga somente o ponto de vista cristão. A melhor pergunta para sua resposta seria: "O que é normal, segundo o que eu entendo da bíblia?"
O pastor confundiu: 4 bilhões é a idade da Terra. 13,5 bilhões é a idade do Universo.
Chuva cósmica caindo na Terra? Nada disso...
Não tem só o criacionismo cristão versus evolução. Toda religião tem seu respectivo mito da criação. O criacionismo cristão é só mais uma forma de tentar explicar a existência das coisas, tal qual qualquer outro povo tentou explicar de forma mística, uma vez que não havia Ciência.
Não precisa de mais fé pra acreditar na evolução. Precisa de mais estudo, mas isso dá uma preguiiiiiiça, né?
Se um deus criou tudo de forma planejada, ele planejou errado. Se há um propósito, qual é o propósito? A bíblia não diz.
Quem disse que se não há significado, não tem regra? A natureza tem regras. Os humanos, como seres sociais, têm regras.
Se um deus criou tudo com regras, por que as regras só foram surgindo aos poucos com o tempo? Por que deus não impôs todas as suas regras desde o início da humanidade?
Jean Paul Sartre não cometeu suicídio. Ele teve um edema pulmonar e faleceu em 15 de abril de 1980.
A homossexualidade se justifica pelo caminho proposto pela evolução? Como você explicaria a homossexualidade no reino animal?
"A pessoa é ou tem desejos homossexuais?" Qual a diferença? Se tem desejo, é.
"Ninguém nasce homossexual". Prova isso?
"Qual é o problema disso?" Essa seria uma pergunta de um evolucionista. Mas se um cristão fizer a mesma pergunta, a única resposta que tem pra dar é "porque deus disse que sim". Isso é resposta convincente?
"Qual problema do casado transar com outras mulheres?". Vc confunde amor homoafetivo com traição. Traição nem um gay aceita.
O que a evolução tem a ver com traição? Aliás, na bíblia, o rei Salomão (autor de Cânticos) tinha mais de 700 concubinas.
Você tem dados estatísticos provando que evolucionistas traem suas esposas mais que cristãos?
Transar com criança é pedofilia. Sexo sem consentimento. É crime. Lei dos homens. Aliás, o que a bíblia diz sobre sexo com criança? NADA! Se a criança se casar, biblicamente estaria liberada pra transar.
Se criacionismo não é bíblia, por que só a bíblia o menciona?
O criacionismo escrito na bíblia é diferente do criacionismo descrito por outras crenças.
As civilizações antigas tinham seus respectivos (e diferentes) criacionismos porque ainda não tinham Ciência.
Várias outras crenças não falam em propósito na criação. Nem mesmo o bíblico. Aonde diz na bíblia o propósito da criação?
De novo: qual é o propósito? Qual é o significado?
Sobre as regras: por que as regras eram umas no VT e deus (imutável) mudou de ideia e, através de Jesus, mudou as regras do jogo no NT?
Ainda sobre as regras: várias crenças têm seus próprios livros sagrados com regras diferentes das bíblicas. Por que as regras bíblicas são certas e as regras de outros livros sagrados não são?
Na evolução há regras sim: são as regras naturais, da física e da química, por exemplo.
Se vc usa a bíblia como fonte de verdade da criação, então o criacionismo é sim judaico-cristão. Por que não usa como fonte outros textos criacionistas de outras religiões?
Vc entendeu Simpsons errado. É um seriado dirigido por um ateu que vira e mexe critica as religiões.
Se deus criou homem e mulher só pra ter filhos, casais que não querem ter filhos são pecadores? É proibido não querer ter filhos? E quem nasce estéreo, não pode se casar?
Constituição de família: pai/mãe não é quem faz, é quem cria. Aí criar pode ser a avó, o avô, o tio, a tia, a mãe solteira, o pai solteiro, duas mães ou dois pais.
Bíblia fala que o homem tem que ser o mantenedor: contextualize pra uma época em que as mulheres não trabalhavam. Ou a mulher que sustenta a casa vai contra a ordem divina? Que machismo!
"Jesus é o filho amado de deus". E nós não somos filhos amados dele também? Mas Jesus não é o próprio deus?
Criticando os católicos vc não reforça sua religião. Só mostra intolerância religiosa e preconceito.
Todos os estudiosos, pesquisadores e teólogos católicos do mundo discordam de você. Discuta com eles.
Não é só a mulher que dá à luz: todas as fêmeas de todas as espécies que se reproduzem sexualmente!
O livro de Lucas não foi escrito só por Lucas.
E os versículos machistas, não vai falar nada?
Se Espírito Santo não é mulher, por que ele seria referência de ser mulher?
"Aonde existe lugar pra homossexual na criação?" Nos homens e mulheres que nascem gays, ora. Você confunde gênero com sexualidade. Um homem não deixa de ser homem por ser gay e nem uma mulher deixa de ser mulher por ser lésbica.
"Se deus é o criador..." Mas quem disse que ele é o criador? E se o criador for um deus de outro criacionismo de outra religião?
A bíblia não detalha a vida conjugal de todos os seus personagens para sabermos que houve ou não um homossexual entre eles. Sabe por que? Porque isso não importa pra ele.
Deus só criou um homem e uma mulher porque precisava começar uma civilização. Só por isso. Hoje já temos uma civilização bem estabelecida (e volumosa: somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo). Nao temos mais essa necessidade de multiplicar como descrito no Gênesis.
E os animais homossexuais, como explicá-los biblicamente? Se deus criou o leão macho e a leoa fêmea, por que existe leão gay? Safadeza animal?
"Como homem e homem gera fruto?" O fruto precisa necessariamente ser um filho? O fruto não pode ser o amor? Eles não podem adotar uma criança abandonada por um casal hétero? Eles não podem contratar uma barriga de aluguel ou mesmo combinar de ter sexo hetero com uma amiga só pra gerar a criança? Se o problema for só a geração, tá fácil de resolver hoje em dia.
"Antigo Testamento fala sobre gays" mas também fala sobre não comer porco. Jesus aboliu a lei.
"Efeminados e sodomitas são injustos". Por que um gay, só por ser gay, seria injusto? Vc é quem está sendo injusto afirmando isso.
"Gay não vai pro céu". Nem os preconceituosos. Nem os julgadores. Jesus mesmo disse "não julgueis". Quem decide quem vai pro céu ou não é Jesus, não é você ou sua interpretação pessoal da bíblia.
O que Jesus disse sobre a sexualidade alheia? NADA!
"Fora daquilo (a bíblia) a coisa não vai funcionar". Como vc explica a coisa funcionar pra 2/3 da humanidade que não crêem nesse deus?
"Vc não é homossexual. Vc tem desejos homossexuais". Mas o que caracteriza ser homossexual é exatamente ter desejos homossexuais. Quem é homossexual então? Não existe?
De novo tentando misturar afetividade, amor entre duas pessoas, com crime de pedofilia e com traição. Tem desejo que faz bem (amar outra pessoa) e desejo que faz mal (pedofilia e traição). Não misture as coisas.
"Nenhuma outra religião justifica o homossexualismo". Desculpa, mas dentro do próprio cristianismo, os anglicanos, que também são evangélicos, aceitam a homossexualidade e até ordenam bispos gays.
Vc não peca? Segundo 1 João 1:8, todos pecam. Então vc também peca. Se vc peca e um gay também peca, qual a diferença? Ambos são pecadores. Então, antes de querer falar dos pecados dos outros, olhe para os seus próprios pecados!