Lindo texto postado por um ateu anônimo defendendo a religião (em termos)

Se ter fé (em Deus, em orixás, em voduns, em antepassados, em ET's, na rebimboca da parafuseta, e assim por diante) fosse uma experiência completamente negativa, as multidões de crédulos não existiriam. A religião cumpre seu papel para quem crê, desenvolvendo a resiliência, estreitando laços sociais e comunitários, divulgando entre as massas conceitos de coletividade, perseverança, abertura dos potenciais humanos por meio do controle do ego, dentre tantos benefícios de se deixar tosquear, como ovelha.

Embora o homem devesse assumir ativamente seu papel de ser pensante e capaz de transcender seus limites em virtude de sua capacidade de imaginação, inovação, raciocínio, movimentos finos, o fardo da realidade é pesado e a fragilidade de nosso ser se apresenta como uma porta para a loucura. A morte é certa, mas a hora incerta - diz o ditado romano, antiquíssimo, no entanto, atual. A consciência de ter saído do nada para ao nada voltar (o homem é pó e ao pó voltará; feito do barro, o homem existe enquanto "é", após isso, cai ao chão inerte), se inculcada na mente de quem não tem bases para suportar o peso da vida e da morte, pode causar estragos, depressão, insanidade. Ao contrário, se acreditar que se elevará ou que receberá recompensas no céu, caso trate seus semelhantes com dignidade, 99,999% das pessoas estimula-se a ser gente ou a pelo menos tentar. O fenômeno religioso é complexo.

Exprime-se pela linguagem que se "crê" em Deus ou em entidades espirituais, mas, no fundo isso quer dizer mais, significa que a pessoa tornou-se ou está em processo de desenvolvimento de resiliência ou que mantém fortes laços comunitários e culturais com sua etnia, que encontrou um sistema de moral, um ethos, princípios com os quais se identifica. Por isso, como ateu, vejo o lado bom da religião e apoio a fé (em termos), visto que para cooperarmos uns com os outros, para sermos racionais, para tratarmos o outro como gostaríamos de ser tratados, não seria necessário torcer para um Deus em específico, ou entrar para agremiação religiosa qualquer, bastaria sermos e tratarmos os outros como gente, acima de tudo.

Vejo grande semelhança entre as religiões e as torcidas organizadas. Os "Gaviões da Fiel" nutrem verdadeira estima e irmandade para com os corinthianos, mas são capazes de trucidar um outro ser humano só porque o "inimigo" veste um pano verde e participa da "Mancha Verde". Assim são os judeus e cristãos: ambos acreditam no Messias, no mesmo, inclusive, mas o antissemitismo fez inúmeras vítimas nas fogueiras da Inquisição. Protestantes e católicos, em alguns países da Europa, se enfrentam tal qual a Independente encara os "galinhas" em dias de São Paulo x Corinthians.

O ser humano é assim: mudou a cor da grama (ou da camisa, ou o nome e atributos da divindade), farinha é pouca e meu pirão primeiro. Ao menos no interior das alcateias há cooperação e compreensão entre os indivíduos. O problema é que o homem é o lobo do homem e vivemos como se não fossemos morrer, como se não fossemos destinados a virar mero NADA. O "carpe diem", longe da frivolidade e medo da aniquilação inevitável, pode ser aproximado ao cerne da filosofia cristã; do caminho em direção à luz, dos espiritistas; da admiração e ligação com as raízes, típicas do culto aos orixás e dos voduns.

Por que não? É na desvirtuação do lado bonzinho das religiões, é no eurocentrismo, do desrespeito ao outro e à sua liberdade de crença ou cultura que nasce a pilhagem do pobre por meio do dízimo e das campanhas para sugar o capital do crente. É da ignorância que nasce a intolerância àquele que torce para a outra religião e assim por diante. Os romanos, tidos hoje como pagãos ignorantes é que sabiam viver: "GUERRA AOS VÍCIOS, PAZ PARA COM OS HOMENS". Se ser ateu é defender essa ótica, do respeito e da tolerância à liberdade do outro de ter liberdade de crença (ou de não-crença, inclusive), sou ateu, com orgulho.

Ateu. Habitante de Bady Bassitt-SP. 25 anos. Professor de língua portuguesa.

Comentário originalmente feito neste post.